quarta-feira, 22 de julho de 2015

Outra sugestão

EM CÓDIGO

(Fernando Sabino)

          Fui chamado ao telefone. Era o chefe de escritório de meu irmão:
          – Recebi, de Belo Horizonte, um recado dele para o senhor. É uma mensagem meio esquisita, com vários itens, convém tomar nota. O senhor tem um lápis aí?
          – Tenho. Pode começar.
– Então lá vai. Primeiro: minha mãe precisa de uma nora.
– Precisa de quê?
– De uma nora.
– Que história é essa?
– Eu estou dizendo ao senhor que é um recado meio esquisito. Posso continuar?
– Continue.
– Segundo: pobre vive de teimoso. Terceiro: não chora, morena, que eu volto.
– Isso é alguma brincadeira.
– Não é não. Estou repetindo o que ele escreveu. Tem mais. Quarto: sou amarelo, mas não opilado. Tomou nota?
– Mas não opilado – repeti, tomando nota.  – Que diabo ele pretende com isso?
– Não sei não senhor. Mandou transmitir o recado, estou transmitindo.
– Mas você há de concordar comigo que é um recado meio esquisito.
         – Foi o que eu preveni ao senhor. E tem mais. Quinto: não sou colgate, mas ando na boca de muita gente. Sexto: poeira é a minha penicilina. Sétimo: carona, só de saia. Oitavo…
        – Chega! – protestei, estupefato. – Não vou ficar aqui tomando nota disso, feito idiota.
        – Deve ser carta em código, ou coisa parecida – e ele vacilou: Estou dizendo ao senhor que também não entendi, mas enfim… Posso continuar?
        – Continua. Falta muito?
       – Não, está acabando: são doze. Oitavo: vou, mas volto. Nono: chega à janela, morena. Décimo: quem fala de mim tem mágoa. Décimo primeiro: não sou pipoca mas também dou meus pulinhos.
         – Não tem dúvida, ficou maluco.
       – Maluco não digo, mas como o senhor mesmo disse, a gente até fica com ar meio idiota… Está acabando, só falta um. Décimo segundo: Deus, eu e o Rocha.
         – Que Rocha?
– Não sei. É capaz de ser a assinatura.
– Meu irmão não se chama Rocha, essa é boa!
– É, mas que foi ele que mandou, isso foi.
      Desliguei, atônito, fui até refrescar o rosto com água, para poder pensar melhor. Só então me lembrei. Haviam-me encomendado uma crônica sobre essas frases que os motoristas costumam pintar, como lema, à frente dos caminhões. Meu irmão, que é engenheiro e viaja sempre pelo interior fiscalizando obras, prometera ajudar-me, recolhendo em suas andanças farto e variado material. E ele viajou, o tempo passou, acabei esquecendo complemente do trato, na suposição de que o mesmo lhe acontecera.
        Agora, o material ali estava. Era só fazer a crônica. Deus, eu e o Rocha! Tudo explicado! Rocha era o motorista, Deus era Deus mesmo, e eu, o caminhão.

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I – Marque com um X o sinônimo da palavra ou expressão destacada.

1 - Em: “É uma mensagem meio esquisita, com vários itens, convém tomar nota…”. A expressão em negrito pode ser substituída por:

( A  ) assinalar        ( B ) observar       (  C ) escrever     (  D ) guardar

2 -  Na frase: “Que história é essa?” , a palavra em negrito significa:

(  A ) fato       ( B  ) complicação      ( C  ) chateação      (  D ) anedota

3-  Em: “… pobre vive de teimoso” , a expressão em negrito pode ser substituída por:

(  A ) porque é persistente         
(  B ) porque é desobediente       
(  C ) porque é rebelde            
(  D ) porque é corajoso

4 - Em: “Isso é alguma brincadeira.”  a palavra em negrito significa:

( A  ) piada       ( B  ) passatempo      (  C ) jogo     (  D ) divertimento

5 - Em: “Foi o que eu preveni ao senhor”, a palavra em negrito significa:

( A  ) chegar antes de                  
( B  ) avisar com antecedência
( C  ) impedir que se realize        
( D  ) aconselhar com consideração

6 -  Em: “…carona, só de saia.” , a expressão em negrito pode ser entendida como:

( A  ) só se quiser usar saia      
( B  ) só se não usar calça comprida
( C  ) só se for mulher             
( D ) só se estiver de saia

7 -  Em: “Chega! – protestei, estupefato.” , a palavra em negrito significa:

( A ) afirmei      (  B ) assegurei      (  C ) reclamei      (  D ) declarei

8 -  Em: “…protestei, estupefato.” , a palavra em negrito significa:

(  A ) amedrontado    
( B  ) enraivecido        
( C  ) desolado      
( D  ) abobalhado

9 -  Em: “Não vou ficar aqui tomando nota disso, feito idiota.” , a expressão em negrito tem o mesmo significado que:

( A  ) como pessoa desocupada       
( B  ) como quem não quer nada
( C  ) como irresponsável                  
( D  ) como bobo

10 - Em: “Deve ser carta em código…” , a expressão em negrito pode ser entendida como:

(  A ) sinais secretos             
( B  ) fórmulas mágicas       
( C  ) letras diferentes           
( D  ) palavras de outra língua

11 -  Em: “… e ele vacilou…”  a palavra em negrito significa:

( A  ) caminhou sem firmeza        
( B  ) mostrou-se inseguro        
( C  ) estremeceu          
( D  ) abalou-se

12 -  Em: “…quem fala de mim tem mágoa…” , a palavra  em negrito significa:

(  A ) pena      (  B ) sofrimento      (  C ) inveja       (  D ) raiva

13 -  Em: “Desliguei atônito…”  a palavra em negrito significa:

( A  ) atordoado        
( B  ) amedrontado          
( C  ) enfurecido        
( D  ) revoltado

14 - Em: “… e viaja sempre pelo interior…”, a palavra em negrito significa:

( A  ) que está dentro de            
( B  ) regiões distantes da capital        
( C  ) que é interno de        
( D ) que se situa entre

15 -  Em: “…fiscalizando obras…” , a palavra em negrito significa:

( A  ) vigiando     ( B  ) examinando    (  C ) velando     ( D  ) cobrando

16. Em: “…recolhendo em suas andanças…”, a palavra em negrito significa:

( A  ) recebendo      ( B  ) levando      ( C  ) classificando       ( D  ) reunindo
17 -  Em: “… suas andanças…”  a palavra em negrito tem o mesmo significado que em:

( A  ) negócios    (  B ) trabalhos     ( C  ) viagens     ( D  ) passos

18 -  Em: “…acabei me esquecendo completamente do trato…”  a palavra em negrito significa:

(  A ) contrato      (  B ) acordo        (  C ) tratamento          (  D ) promoção

19 -  Em: “…na suposição de que o mesmo lhe acontecera…” , a palavra em negrito significa:

( A  ) ideia          (  B ) observação          ( C  ) opinião         ( D  ) atenção

20 -  O nome da crônica está ligado a uma frase enunciada pelo:

( A  ) moço do escritório         
( B  ) narrador           
( C ) irmão do narrador          
( D ) motorista de caminhão

21. - O rapaz do escritório, não tendo entendido a mensagem, refere-se a ela como sendo:

( A  ) um recado maluco                        
( B  ) um recado confuso e longo
( C  ) uma brincadeira esquisita        
(  D ) uma carta interessante

22 -  Ao dizer: “Isso é alguma brincadeira” , o narrador está pensando que:

( A  ) estão querendo zombar dele          
( B  ) seu irmão ficou maluco
( C  ) a mensagem é divertida                  
( D ) o recado não é para ele

23 -  A palavra opilado refere-se à pessoa doente de opilação – doença provocada por uma espécie de parasita que se aloja no intestino e se alimenta de sangue, provocando, na pessoa doente, uma cor amarelada. A opilação é conhecida popularmente entre outros nomes, como amarelão. Na frase: “Sou amarelo, mas não opilado…” pode-se entender essa afirmação como:

( A  ) minha doença não é amarelão                                                 
( B  ) minha cor amarela não é sinal de amarelão
( C  ) minha cor não é tão forte como a cor do amarelão             
( D  ) minha cor lembra a cor do amarelão

24 - Na frase: “Não sou colgate, mas ando na boca de muita gente”  a expressão em negrito pode ser entendida como:

(  A ) Não sou famoso                 
(  B ) Não sou fofoqueiro        
( C  ) Não sou pasta de dentes     
( D  ) Não sou dentista

25 -  “Poeira é a minha penicilina”  é uma das frases que o irmão do narrador anotou de para choques de caminhões. Em relação ao motorista que a usou como lema, podemos pensar que ela quer dizer:

( A  ) A poeira me causa alergia
( B  ) Não me incomodo com a poeira
( C  ) Em mim, a poeira age como um tipo de remédio
( D  ) A poeira é uma espécie de companheira de viagens

26 - Quando o moço do escritório diz:”…dever ser carta em código…” , percebemos que ele:

(  A ) pensa que a mensagem é uma brincadeira do irmão do narrador
(  B ) considera a mensagem muito difícil para ele
(  C ) não gostou da mensagem
(  D ) pensa que a mensagem só pode ser entendida por pessoas que conheçam a linguagem usada

27 -  Após receber o recado, como se sentiu o narrador, o que fez e para que o fez?
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28 -  O narrador queria pensar melhor sobre o quê e para quê?
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29 - Ao dizer, no final do texto, que seu irmão havia prometido conseguir “farto e variado material”(linha 49), a que material se refere o narrador e a que se destinava esse material?
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30 -  A que se refere o narrador ao dizer “Tudo explicado” e o que foi explicado?
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GABARITO
1- C      2- D     3- A     4- A      5- B      6- C     7- C       8- D     9- D     
10- A      11.-B     12- C    13- A     14- B     15- B    16- D    17- C     18- B   19- A     20- A    21- B      22- A      23- B     24- C      25- C      26- D
As respostas das questões 27 a 30 poderão ter sido dadas com outras palavras. O importante é ter mantido a ideia que o texto apresenta.
27 - Após receber o recado, o narrador sentiu-se confuso, atordoado, e procurou refrescar o rosto com água fria para aclarar as ideias.
28 - O narrador queria pensar melhor no recado recebido para ver se compreendia o que o irmão lhe queria dizer com o recado.
29 - O narrador refere-se às frases comumente encontradas em parachoques de caminhões  que o irmão lhe prometera conseguir e que lhe serviriam para escrever a crônica encomendada.

30 - O narrador refere-se à compreensão da mensagem toda e, em especial, da frase “Deus, eu e o Rocha”, uma vez que ele pôde entender que “eu” era o caminhão e “Rocha”, o nome do motorista.

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