quarta-feira, 22 de julho de 2015

HISTORINHA URBANA

         – Pare na esquina – disse o passageiro.
O chofer obedeceu.
– São cinco reais – informou ele, indicando os números antes de fazer o taxímetro voltar a zero. O passageiro estendeu-lhe uma nota de dez:
– Cobre aqui.
O motorista balançou negativamente a cabeça:
– Não tenho troco – disse.
– E como é que vamos fazer? – perguntou o passageiro. – Se houvesse alguém aí em casa… Mas está todo mundo viajando e o dinheiro mais miúdo que eu tenho é essa nota de dez.
– Bem - falou o chofer – o jeito é a gente procurar onde trocar essa nota.
– Sim, acho que é a única coisa que se pode fazer - concordou o passageiro.
O táxi arrancou quase num salto.
– Por aqui não vai ser nada fácil encontrar quem troque – disse o passageiro, reajustando os rins abalados pela arrancada. – Ainda mais hoje, domingo, com quase tudo fechado.
Rodaram algum tempo em silêncio. Depois o chofer falou:
– Vamos ver se conseguimos trocar naquela quitanda lá adiante.
Não conseguiram.
– Acho que esse cara está é com má vontade – disse o chofer quando retornaram ao carro.
– Talvez  ele não tenha mesmo troco – disse o passageiro.
– Então experimento trocar comprando uma carteira de cigarro.
– Eu não fumo - respondeu o passageiro.
– Então… compre qualquer coisa.
– Que coisa?
– Bom… Que tal uma garrafa de cachaça?
Não havia troco. A garrafa continuou na prateleira, para decepção do chofer. Voltaram ao táxi. Daí por diante, infelizmente, estava tudo fechado. O passageiro se sonhava em casa, depois de uma longa chuveirada, lendo o jornal comodamente instalado na sua poltrona predileta, quando o chofer voltou a falar.
– Bom, acho que estamos novamente no ponto de partida – disse ele.
– É - concordou melancolicamente o passageiro. – Foi logo ali adiante que eu tomei o seu táxi.
– Isso quer dizer que não há mais problema – falou o chofer.
– Não? - perguntou o passageiro.
– Claro que não. Daqui pra sua casa a corrida deu cinco reais, não foi?
– Foi.
– Então, embora o taxímetro esteja desligado, sabemos que uma corrida de sua casa para cá também dá cinco reais. Sendo assim, não precisamos mais trocar o dinheiro: são exatamente dez  reais. Eu dispenso o quebrado a mais do tempo em que ficamos parados naquela quitanda.
O passageiro sentiu-se subitamente aliviado. Entregou a nota de dez ao chofer, agradeceu, saltou do táxi – e foi a pé para casa.

RUY ESPINHEIRA FILHO. Sob o último sol de fevereiro. Civilização Brasileira, 1975, Rio de Janeiro.


1 -  Relacione a frase ao significado apresentado da palavra nota:

(A)  O passageiro estendeu-lhe uma nota de dez.
(B) O freguês apresentou a nota das compras.
(C) O violinista acertou as notas executadas no concerto.
(D)  O professor informou a nota do aluno.

 (   ) resultado numérico do aproveitamento de um aluno na escola
(  ) sinal que representa um som, na música.
(   ) relação de mercadoria com quantidade e preço.
(  ) papel que representa moeda, dinheiro.


2 - Para que serve o taxímetro?
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3 - O passageiro não tinha dinheiro trocado e o motorista não tinha troco. Na sua opinião, qual deles é o principal causador do impasse?
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4 - Todas as sugestões para resolver a questão partiram do motorista. Isso demonstra que:
(  A ) o motorista se sentia culpado
(  B ) o passageiro era passivo e acomodado
( C  ) o motorista queria lucrar com a situação
( D  ) o passageiro pretendia não pagar a corrida.

5 -  Se você fosse o passageiro, que solução apresentaria logo no início para resolver o problema?
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6 - Observamos pelo desenvolvimento do texto que o passageiro:

( A  ) não fumava nem bebia bebida alcoólica
( B  ) não fumava, mas bebia
( C  ) fumava e bebia
( D  ) fumava mas não bebia


7 - De acordo com o texto, conclui-se que o motorista:

(  A ) não fumava nem bebia bebida alcoólica
( B  ) não fumava, mas bebia
( C  ) fumava e bebia
( D  ) fumava mas não bebia

8 - Justifique sua resposta à questão anterior.
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9 - Quando o chofer apresentou a última solução, o passageiro sentiu-se aliviado. Por que se sentiu aliviado se estava outra vez no mesmo lugar do início da corrida?
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10 - Na sua opinião, a última solução apresentada pelo motorista foi correta? Justifique.
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Gabarito:
1 ( D)      ( C )      ( B )    ( A )
2: Serve para indicar o valor a ser pago baseado na distância percorrida e no tempo utilizado no transporte de pessoas.
3: Por lei é o vendedor que tem de fornecer o troco. No caso do texto, a responsabilidade é do motorista e não do passageiro.
4: B
5: Resposta pessoal.
6:  A
7: B
8: O texto informa que o motorista ficou decepcionado por não ter sido possível comprar a garrafa de cachaça. Provavelmente ele queria bebê-la.
9: Porque se viu livre do problema do troco.

10: Resposta pessoal.



O preço de um cheiro


Um camponês foi à cidade vender seus produtos. Ao regressar, parou em uma pousada para descansar.
— O que deseja? — perguntou o dono, solícito.
— Um pouco de pão e vinho, por favor. Enquanto o dono atendia ao seu pedido, o camponês passou a observar o local. Havia no fogo uma carne que exalava um aroma    irresistível. Ele ficou com vontade de saborear o assado, mas não tinha tanto dinheiro...
Depois de um momento o dono da pousada voltou para trazer-lhe o pão e o vinho. O camponês bebeu o vinho, mas seus olhos não desgrudavam da carne suculenta. De repente, ele teve uma ideia: colocar o pão no vapor que subia do assado, para umedecê-lo. No momento em que ia experimentar o pão, foi interrompido por um grito:
— Você se acha muito esperto, não é? — disse o dono, zangado. — Terá de me pagar por isso também!
— Eu não lhe devo nada além do pão e do vinho — disse o camponês surpreso.
— E o cheiro da carne, não custa? — retrucou o dono, zangado.
— O cheiro da carne? — repetiu o camponês, espantado.
— Mas isso não custa nada!
— Como não custa nada? Tudo o que existe aqui é meu, inclusive o cheiro do assado!
A discussão chamou a tenção de um freguês.
— Quanto você quer pelo cheiro do assado?
— Cinco moedas! — disse o dono, satisfeito.
—Tenha dó! — exclamou o camponês, tirando o dinheiro do bolso. — Isso é tudo que eu ganhei por um dia de trabalho...
O freguês pegou as moedas do camponês e sacudiu-as diante de todos.
— Ouviu isso? Pronto! Já está pago.
— Como assim, já está pago? — admirou-se o dono.
— Por acaso este pobre camponês comeu a carne? Não! Apenas sentiu o cheiro do assado. Para pagar pelo cheiro do assado basta o som moedas!
Diante da risada geral, o dono da pousada ficou sem razão e concordou em não cobrar nada do camponês. E pior: ainda fez papel de bobo!

Conto popular


1) Assinale a frase que apresenta o mesmo sentido de:

(    )  “A carne exalava um aroma irresistível.”
(    )    A carne liberava um cheiro estranho.
(    )    A carne liberava um odor insuportável.
(    )    A carne liberava um odor agradável a que não se podia resistir.


2) O    dono da pousada perguntou solícito: “O que deseja?”
Sabendo que solícito significa prestativo, prestimoso, pronto para servir, assinale o tom de voz que ele usou.

(  ) áspero

(    ) rude
(   ) educado
(   ) grosseiro

3) Numere os fatos na ordem em que aconteceram.

(    )  O freguês explica que o camponês pode pagar o cheiro com o barulho das moedas.

(   )  O dono da pousada cobra pelo cheiro da carne e o camponês se recusa a pagá-lo.
(   )  O camponês coloca seu pão no vapor que sobe da carne.
(  )  Um freguês ouve a conversa entre os dois homens e sacode as moedas do camponês.
(  )  O camponês sente cheiro de carne assada.

4) a) É correto pagarmos pelo cheiro de algum alimento? Justifique.
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     b) E pelo aroma de um perfume, quando devemos pagar?
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5) Com base no texto, faça um comentário sobre a atitude tomada pelo freguês que assistia à discussão do dono da pousada com o camponês
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6) Escreva ao lado de cada ação a que personagem se refere. 

Ação
Personagem
Defendeu o camponês 

Atendeu o camponês 

Chacoalhou as moedas 

Colocou o pão no vapor 

Cobrou pelo cheiro 

Bebeu o vinho 



7) Passe o 6º parágrafo para o plural. 
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8 -  Agora escreva a história com suas palavras, no caderno, e faça uma ilustração para ela.



    
A FLAUTA E O SABIÁ

      Coelho Neto

       Em rico estojo de veludo, pousado sobre uma mesa de charão, jazia uma flauta de prata. Justamente por cima da mesa, em riquíssima gaiola suspensa ao teto, morava um sabiá. Estando a sala em silêncio, e descendo um raio de sol sobre a gaiola, eis que o sabiá, contente, modula uma ária.
      Logo a flauta escarninha põe-se a casquinar no estojo como a zombar do módulo cantor silvestre.
       - De que te ris? indaga o pássaro.
        E a flauta em resposta:
        - Ora esta! pois tens coragem de lançar guinchos diante de mim?
        - E tu quem és? ainda que mal pergunte.
       - Quem sou? Bem se vê que és um selvagem. Sou a flauta. Meu inventor, Mársias, lutou com Apolo e venceu-o. Por isso o deus despeitado o imolou. Lê os clássicos.
       - Muito prazer em conhecer... Eu sou um mísero sabiá da mata, pobre de mim! fui criado por Deus muito antes das invenções. Mas deixemos o que lá foi. Dize-me: que fazes tu?
       - Eu canto.
       - O ofício rende pouco. Eu que o diga que não faço outra coisa. Deixarei, todavia, de cantar - e antes nunca houvesse aberto o bico porque, talvez, sendo mudo, não me houvessem escravizado - se, ouvindo a tua voz, convencer-me de que és superior a mim. Canta! Que eu aprecie o teu gorjeio e farei como for de justiça.
       - Que eu cante?!...
       - Pois não te parece justo o meu pedido?
       - Eu canto para regalo dos reis nos paços; a minha voz acompanha hinos sagrados nas igrejas. O meu canto é a harmoniosa inspiração dos gênios ou a rapsódia sentimental do povo.
       - Pois venha de lá esse primor. Aqui estou para ouvir-te e para proclamar-te, sem inveja, a rainha do canto.
       - Isso agora não é possível.
       - Não é possível! por quê?
       - Não está cá o artista.
       - Que artista?
       - O meu senhor, de cujos lábios sai o sopro que transformo em melodia. Sem ele nada posso fazer.
       - Ah! é assim?
       - Pois como há de ser?
       - Então, minha amiga - modéstia à parte - vivam os sabiás! Vivam os sábias e todos os pássaros dos bosques, que cantam quando lhes apraz, tirando do próprio peito o alento com que fazem a melodia. Assim da tua vanglória há muitos que se ufanam. Nada valem se os não socorre o favor de alguém; não se movem se os não amparam; não cantam se lhes não dão sopro; não sobem se os não empurram. O sabiá voa e canta - vai à altura porque tem asas, gorjeia porque tem voz. E sucede sempre serem os que vivem do prestígio alheio, os que mais alegam triunfos. Flautas, flautas... cantam nos paços e nas catedrais... pois venha daí um dueto comigo.
       E, ironicamente, a toda a voz, pôs-se a cantar o sabiá, e a flauta de prata, no estojo de veludo... moita.
       Faltava-lhe o sopro.


1  - Do texto, pode-se inferir que a cena começa:

a)     num recinto em silêncio.
b)     ao ar livre, numa varanda iluminada pelo sol.
c)     no paço real, com um festa oferecida pelos cortesãos para regalar o monarca.
d)     no adro de uma igreja, ao som dos hinos sagrados.
e)      na prateleira de uma das salas ensolaradas de uma ruidosa loja de instrumentos musicais.

2 -  Dentre as seguintes expressões proverbiais, indique aquela que melhor se aplica ao texto "A flauta e o sabiá":

a) Gato escaldado tem medo de água fria.
b) Não se deve fazer continência com o chapéu alheio.
c) Patrão fora, feriado na loja.
d) Mais vale um pássaro na mão que dois voando.
e) Santo de casa não faz milagre.


3 - Dentre as seguintes passagens do texto, assinale a que justifica o contentamento do sabiá:

a)      "... riquíssima gaiola suspensa ao teto...".
b)     "... sobre uma mesa de charão, jazia uma flauta... por cima da mesa... morava um sabiá...".
c)     "... descendo um raio de sol sobre a gaiola ...".
d)     "Estando a sala em silêncio...".
e)     "... o sabiá, contente, modula uma ária".

4 -  No texto, a expressão o deus refere-se a:

a) Apolo (o deus do sol)                      d) Deus (criador do sabiá)
b) Mársias (o gênio da flauta)            e) o Senhor da flauta
c) Orfeu (o deus da música)


5 - Com a frase Lê os clássicos, a flauta está sugerindo que o sabiá:

a)    conheça os autores que foram contemplados com o Prêmio Nobel de literatura.
b)     desconhece os compositores de música clássica.
c)    deve ler os principais "best-sellers".
d)      ignora a cultura greco-latina.
e)     lê os clássicos brasileiros.


6 - O sabiá desafiou a flauta a cantar porque:

a)    quem canta para reis devotos nas igrejas canta para qualquer pessoa.
b)     as flautas foram inventadas para cantar.
c)      cantar era uma arte própria da flauta.
d)    ele mesmo não conseguiria abrir o bico.
e)     a flauta havia menosprezado o talento dele.

Gabarito
1-.a; 2-b; 3-c; 4-a; 5-d; 6-e.

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